Workaholic: como identificar e ajudar o trabalhador compulsivo
Uma pesquisa recente apontou que 1/3 das pessoas mundo afora trabalha mais de 48 horas por semana, ou quase 10h de trabalho por dia. No Japão, um dos efeitos nefastos dos longos períodos à disposição da empresa ganhou nome próprio: karoshi, ou, literalmente, morte por excesso de trabalho.
A cultura do work hard, play hard (trabalhe duro, divirta-se muito) ainda é difundida e enaltecida, pois acredita-se que o sucesso profissional é decorrente de uma rotina laboral frenética aliada à hiperconectividade, e a diversão é um meio de contrabalançar a jornada de trabalho exaustiva.
Essa falsa ideia de equilíbrio, a competitividade no mundo corporativo, a vaidade e certos padrões de comportamento individuais podem levar um colaborador a se tornar um workaholic.
O que é workaholic?
Workaholic é um trabalhador compulsivo, alguém que se dedica de modo incessante às suas atividades profissionais, mas que experimenta as consequências negativas dessa prática, como o esgotamento físico e emocional, a ansiedade ou o estresse ocupacional.
O termo, que data de 1971, é a junção em inglês das palavras work (trabalho) + alcoholic (alcoólatra), fazendo alusão ao vício em trabalho. Inicialmente usado como um trocadilho, acabou se transformando em um dos assuntos controversos no universo empresarial.
Altos níveis de envolvimento e engajamento no trabalho não necessariamente caracterizam dependência. Se existe prazer, propósito e manutenção da qualidade de vida enquanto a pessoa desempenha suas tarefas, isso pode significar satisfação genuína com o emprego e com a empresa. Classificar alguém como workaholic requer uma análise aprofundada da motivação por trás das longas jornadas dedicadas ao trabalho.
Sintomas de um workaholic
Como mencionado, ser workaholic não é um hábito saudável, e os trabalhadores compulsivos podem apresentar uma série de sintomas indicativos do excesso de atividades laborais. Entre eles, existe:
- Irritabilidade e mau humor
- Déficit de atenção
- Distúrbios do sono (sonolência ou insônia)
- Instabilidade emocional
- Baixa autoestima
- Crises de ansiedade
- Cansaço
Se não tratados, os problemas decorrentes do vício em trabalho podem evoluir para condições mais severas, como a depressão, o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), o estresse crônico e a síndrome de burnout.
Como identificar um colaborador workaholic?
Colaboradores workaholics trabalham em demasia, com o objetivo de cumprir prazos. Os motivos são sentimentos de culpa, insegurança e autocobrança, ou desejo de impressionar as lideranças, os colegas, a família e até a sociedade em geral. Algumas características de pessoas viciadas em trabalho são:
- Relação de dependência com o trabalho
Workaholics começam sua jornada de trabalho cedo e raramente encerram suas atividades no horário regular. Esses colaboradores tendem a acumular horas extras, mas o propósito não é apenas conseguir um incremento na remuneração; pessoas viciadas em trabalho acreditam que as chances de realização pessoal e progressão na carreira estão diretamente atreladas à quantidade de horas destinadas à empresa.
- Negligência em relação à saúde e à vida pessoal
Workaholics podem ser adeptos ao sedentarismo, pois assumem que o tempo dedicado à saúde pode ser melhor aproveitado na empresa. Aliás, pessoas viciadas em trabalho acreditam que nunca têm tempo para atividades de lazer, hobbies ou para o convívio familiar. Trabalhadores compulsivos pouco usufruem de férias, não conseguem se desligar dos projetos profissionais em andamento e fazem da casa, da praia ou do telefone celular uma extensão do escritório.
- Estado de preocupação constante
Workaholics estão sempre alarmados em relação ao cumprimento de prazos e metas, apreensivos com a qualidade de suas entregas ou preocupados com a sua imagem profissional. Esse constante estado de impaciência e ansiedade no trabalho tende a afetar a relação com os colegas que não adotam a mesma postura. Trabalhadores compulsivos podem sentir que os demais integrantes da equipe não se empenham da mesma forma, gerando frustração e ressentimento.
Como o RH pode ajudar os colaboradores viciados em trabalho
Sabendo que problemas de saúde afetam a produtividade, o RH deve atuar em parceria com as lideranças para identificar e combater o vício no trabalho, antes que comece a prejudicar o bem-estar dos colaboradores e os resultados da empresa. Algumas ações úteis incluem:
Adaptar a cultura organizacional
A cultura corporativa reflete a missão, a visão e os valores da empresa. Se a organização prioriza o bem-estar, a qualidade de vida, a flexibilidade e a autonomia, tais princípios devem ser traduzidos em ações.
Em outras palavras, o RH e as gerências devem comunicar e colocar em prática bons exemplos que sirvam de inspiração para o resto do time. Se alguém está em descompasso com o fit cultural desejado, você pode intervir por meio do diálogo, de treinamentos ou sugerir ajuda profissional especializada.
Incentivar pausas durante o expediente
Após algumas horas ininterruptas de trabalho, o corpo e o cérebro já não operam com o mesmo desempenho. A energia e a concentração diminuem, e a criatividade fica comprometida. Daí a importância de fazer pausas regulares.
Seja para tomar um café, almoçar com os colegas ou para participar de sessões de ginástica laboral promovidas pela empresa, é preciso incentivar os colaboradores a estabelecer pequenos intervalos durante o expediente como forma de impedir que o comportamento workaholic se instale.
Estabelecer acordos de trabalho com seu time
Outra iniciativa para ajudar os workaholics é definir limites. Você deve esclarecer quais são as prioridades, estipular metas factíveis e explicar o funcionamento dos indicadores para medir o progresso e o desempenho de cada colaborador. Se necessário, redirecione tarefas e restrinja a disponibilidade online nos períodos de descanso obrigatório, previstos na CLT.
A semana de trabalho de quatro dias é uma realidade bem-sucedida em diversos países, mas ainda um projeto embrionário no Brasil. Enquanto o modelo não é regulamentado por aqui, você pode instituir formas alternativas (como o home office) para que as pessoas ganhem tempo para concentrar-se em outros afazeres voltados à saúde ou ao lazer.
Implementar ou aperfeiçoar o programa de bem-estar corporativo
Como o vício em trabalho se dá no ambiente corporativo, é natural que a empresa esteja comprometida em encontrar uma solução. Um programa de bem-estar integral é uma excelente iniciativa.
Além de atividades físicas e práticas de autoconhecimento como o mindfulness, sua estrutura de incentivos também deve contemplar soluções que abordem as demais dimensões do bem-estar, proporcionando uma experiência completa aos colaboradores.
O reconhecimento profissional, por exemplo, favorece a esfera ocupacional, enquanto políticas de educação e planejamento financeiro na empresa podem trazer mais segurança ao seu time quanto o assunto é dinheiro.
O bem-estar como aliado no combate ao workaholism
Segundo o Panorama do Bem-Estar Corporativo 2024, a adesão ao Gympass pode reduzir as despesas de saúde da empresa em até 35% e as taxas de turnover (rotatividade de pessoal) são cerca de 40% menores.
Assim como qualquer outro vício, deixar de ser workaholic exige força de vontade e disciplina. Não raro, a ajuda da família, dos amigos e de profissionais especializados será necessária e de grande importância.
O departamento de Recursos Humanos pode atuar em paralelo, encorajando hábitos saudáveis e esclarecendo dúvidas sobre os benefícios corporativos e as ferramentas de apoio à saúde mental oferecidos pela empresa.
Se você deseja saber detalhes sobre os inúmeros mecanismos que podem ser usados para melhorar a qualidade de vida de seus colaboradores através de uma plataforma de bem-estar corporativo como o Wellhub, converse com um de nossos especialistas.
Referências
- 7 SINAIS de que você é um workaholic. Robert Half, 2022. Disponível em: https://www.roberthalf.com.br/blog/carreira/7-sinais-de-que-voce-e-um-workaholic. Acesso em: 22 de janeiro de 2024.
- LOCONTE, Lucas. Workaholic: o que é, causas e consequências. Guia da Carreira, 2022. Disponível em: https://www.guiadacarreira.com.br/blog/workaholic. Acesso em: 22 de janeiro de 2024.
- COSSETTE, Ramon. Workaholic: o que é, consequências e como prevenir. GoGood, 2023. Disponível em: https://gogood.com.br/blog/workaholic/. Acesso em: 22 de janeiro de 2024.
- BARRETO, Marcelo Menna. Um terço das pessoas trabalha mais de 48 horas por semana. Extra Classe, 2023. https://www.extraclasse.org.br/geral/2023/01/um-terco-das-pessoas-trabalham-mais-de-48-horas-por-semana/. Acesso em: 24 de janeiro de 2024.
- SEMANA de 4 dias de trabalho: conheça empresas e países que já adotam esse modelo de jornada e tudo sobre o assunto! PontoTel, 2023. Disponível em: https://www.pontotel.com.br/semana-de-4-dias/. Acesso em: 24 de janeiro de 2024.
- ARAÚJO, Julio Cezar. Karoshi: os japoneses realmente morrem de tanto trabalhar? Mega Curioso, 2022. Disponível em: https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/123383-karoshi-os-japoneses-realmente-morrem-de-tanto-trabalhar.htm. Acesso em: 24 de janeiro de 2024.
- HIPERCONECTIVIDADE: o que é e impactos nas empresas. Totvs, 2022. Disponível em: https://www.totvs.com/blog/inovacoes/hiperconectividade/. Acesso em: 24 de janeiro de 2024.
- COLINS DICTIONARY. Workaholic. Disponível em: https://www.collinsdictionary.com/pt/dictionary/english/workaholic. Acesso em: 15 de abril de 2024.
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